segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um quarto das 154 línguas indígenas do Brasil corre risco de extinção


Rio de Janeiro, 29 abr (EFE).- Um quarto das 154 línguas indígenas ainda vivas no Brasil está ameaçado de extinção, já que contam com menos de cem falantes, alerta um relatório realizado pelo Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG).

O mais grave é que é impossível determinar quantas línguas já se extinguiram desde a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil em 1.500, segundo o estudo do órgão estatal, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

"O Brasil é um dos países com maior diversidade linguística da América, já que conta com 154 línguas ainda faladas, mas o número era muito maior e não sabemos quantas desapareceram sem que restassem registros", disse à Agência Efe a linguista Ana Vilacy Galucio, pesquisadora do MPEG e que coordenou o estudo.
"E muitas das línguas ainda vivas estão ameaçadas de desaparecer, já que têm muito poucos falantes, em sua maioria idosos, e as novas gerações não estão interessadas em aprendê-las. A tendência em médio prazo é que essas línguas desapareçam", acrescentou a antropóloga.
Segundo dados do Censo de 2010 divulgados este mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 37,4% dos 896.917 brasileiros que se declararam como índios falam a língua de sua etnia e somente 17,5% desconhecem o português.
O censo também revelou que 42,3% dos índios brasileiros já não vivem em suas reservas e que 36% se estabeleceram em cidades. Dos que não estão nas reservas, apenas 12,7% falam sua língua.
Ana esclareceu que o inventário do Museu Goeldi considera como ameaçadas as línguas que têm menos de cem falantes, mas que o número seria muito superior se fossem adotados os critérios internacionais, que definem como em perigo às que têm menos de mil praticantes.
De acordo com o relatório do Museu Goeldi, mais da metade das línguas indígenas do Brasil tem menos de mil falantes.
"A situação é crítica para a maioria. Algumas têm menos de dez pessoas que ainda falam sua língua", segundo a especialista.
O censo de 2010 contabilizou 305 etnias indígenas no Brasil que falavam 274 línguas.
O governo reconhece que esses números superam os calculados pela Fundação Nacional do Índio (Funai), o que atribui a subdivisões que os próprios indígenas desconhecem.
O relatório do Museu Goeldi é ainda mais rigoroso e limita a 154 o número de línguas, em comparação às 180 com que a Funai trabalha.
O estudo cita como exemplo o caso dos gaviões, uma etnia no estado de Rondônia a qual eram atribuídas cinco línguas, mas que, após as análises linguísticas, se descobriu que pratica cinco dialetos derivados da mesma língua.
O relatório inclui até a língua dos xipaias, uma etnia assentada no estado do Pará e da qual só restam dois idosos que falam a língua nativa.
A linguista do Museu Goeldi alerta que a principal ameaça das línguas não é o reduzido número de pessoas que a falam, mas a falta de uso, já que os idosos que a conhecem, sem ter com quem praticá-la, começam a esquecer o vocabulário e a gramática.
O caso dos Xipaia é novamente exemplar já que a população é numerosa, mas as novas gerações foram alfabetizadas em português e os dois idosos que falam a língua não vivem perto.
Segundo o Museu Goeldi, com a morte das línguas também se perdem conhecimentos culturais, econômicos e até medicinais, que já não podem ser transmitidos pelos idosos por não terem como se comunicar com os mais jovens.
"Por isso é importante documentar e ter registros em áudio e vídeo dessas línguas", diz Ana, que coordenou um projeto para registrar em gravações línguas ameaçadas e criar escolas bilíngues nas aldeias.
A antropóloga citou o caso dos puruborás, uma etnia também em Rondônia com 800 integrantes, dos quais apenas quatro falam sua língua, que foram beneficiados com um projeto de preservação da língua.
Além de registrar em gravações as conversas dos quatro anciãos, os antropólogos elaboraram um vocabulário básico e montaram uma escola da língua em uma aldeia dos puruborás. EFE

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Pró-Reitoria de Graduação da UFRN realiza V Mostra de Profissões


A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por meio da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), realiza, de 5 a 7 de junho, a V Mostra de Profissões. O evento ocorre no Centro de Tecnologia (CT), no setor 4 do Campus Universitário, em três turnos.

A Mostra de Profissões é um evento realizado anualmente e destinado a estudantes interessados em conhecer a oferta de cursos da UFRN e as suas possibilidades de profissionalização. O objetivo é ajudar os jovens que pretendem ingressar na Universidade a escolher o curso de graduação, baseados no conhecimento do perfil profissional de cada área de formação.

A programação, que vai acontecer das 8h às 11h, das 14h às 17h e das 19h às 21h, consta de minipalestras que serão realizadas por estudantes e professores da UFRN, além de depoimentos de ex-alunos e profissionais reconhecidos no mercado. Não é necessária a  inscrição para participar, basta comparecer ao local e dirigir-se às salas das palestras.  As apresentações vão ocorrer, simultaneamente, em todas as áreas com a duração de uma hora. Os estudantes podem participar de quantas palestras desejarem.

A professora Elizama Cunha, da PROGRAD, destaca que a Mostra visa a esclarecer dúvidas e gerar conhecimento em cada curso. “O nosso maior público são os estudantes do ensino médio das escolas públicas. Essa Mostra serve para aproximar a Universidade da comunidade, para que os alunos possam conhecer, aprender e ver as perspectivas de mercado e futuro profissional”, afirma Elizama.

Segundo ela, serão ministradas 260 palestras e a expectativa é de que o evento atinja seis mil estudantes. A Mostra é realizada juntamente com a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC) e, segundo Elizama, “é muito importante essa parceria, pois é a Secretaria quem oferece os ônibus para buscar os alunos nas escolas”.
A programação do evento poderá ser conferida a partir do próximo mês no site www.ufrn.br/mostradeprofissoes.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

UFRN realiza projeto literário Con-versa Com-Prosa

O projeto literário “Con-Versa Com-Prosa”, vinculado ao Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), traz no dia 18 de abril a cantora Cátia de França para um bate-papo sobre Poesia e Música. O encontro será às 19h, na videoteca II da Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM),

Catarina Maria de França Carneiro mais conhecida como Cátia de França, foi professora de música por algum tempo, até começar a compor em parceria com o poeta Diógenes Brayner. Sua música tem como fonte a literatura, fazendo referências à obra de Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Manoel de Barros, além de João Cabral de Melo Neto.

O Con-versa Com-Prosa é uma iniciativa que visa debater literatura, poesia e prosa. Além disso, objetiva mostrar à comunidade a produção literária da Universidade.

Interessados podem se inscrever pelo e-mail: conversacomprosa@ymail.com.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Tula Pilar, entre a poesia e o Bolsa Família


Tula Pilar Ferreira gosta de se arrumar para sair de casa. Afivela a sandália, passa hidratante nos braços e nas pernas, combina o par de brincos com as cores da saia ou da faixa no cabelo.
Uma vez por mês, porém, o rito se inverte. Pilar escolhe uma camiseta surrada, calça o sapato mais velho (pisando o calcanhar na parte de trás), prende o cabelo e puxa alguns fios para cima, como se estivessem desleixadamente soltos.
O ritual às avessas começou no início do ano, quando ela foi recusada pelo posto de atendimento do programa Bolsa Família. Pilar recebe R$ 64 mensais como complemento de renda para criar a filha de 7 anos e o filho de 16. “A mulher me olhou de cima a baixo”, lembra, imitando a surpresa que viu no rosto da funcionária. “Primeiro, disse que ali era o Bolsa Família, como se eu tivesse no lugar errado. Quando eu expliquei que era cadastrada, ela disse que o posto estava fechado”.
Pilar foi embora. Voltou no dia seguinte, no mesmo horário, mas vestida com roupas velhas. Foi atendida. Desde então, ela usa o “disfarce” sempre que precisa verificar o seu cadastro. Disfarce porque, embora tenha dificuldades para pagar as contas da casa, a sua figura é o avesso do estereótipo procurado pelos olhos da funcionária.
A poetisa Tula Pilar, na sala de sua casa
Pilar é uma poetisa de sorriso largo. Faz sucesso nos saraus da periferia de São Paulo e comanda alguns deles no centro da cidade. Nesses eventos, ela recita seus versos preferidos (alguns deles parte dos seus escritos da "poesia erótica") e dança ao som de percussão.
Seus poemas foram publicados em um livro artesanal: “Palavras Inacadêmicas”. Uma coletânea de poemas provocadores, como a autora. Vaidosa, esconde a idade. Depois de alguma insistência, e tentativas de cálculo a partir do nascimento da filha mais velha, ela concede: “sim, mais de 40”.
Pilar começou a escrever aos trinta, depois de trabalhar por mais de duas décadas como empregada doméstica e passadeira. Ela não via futuro nas casas de família e lavanderias, mas levou alguns anos tomando coragem para dar o salto e deixar o emprego fixo.
Hoje, apesar do espaço conquistado, ela paga um preço alto por sua escolha. Nesse momento deve dois meses de telefone e energia. Se não pagar, a família ficará no escuro de novo – já ficaram seis meses sem luz. Para as refeições semanais, Pilar garante arroz, feijão e legumes. Carne só no fim-de-semana. Eles moram em Taboão da Serra, divisa com a capital paulista. A casa alugada tem uma varanda, cozinha, sala, banheiro e um quarto, que ela divide com os filhos.
A fase mais difícil foi no começo da mudança, quando tentava entrar no mercado da produção cultural. Pilar fazia bicos como vendedora de jazigo e de ingresso de teatro, mas não conseguia pagar o aluguel. Enquanto a proprietária ameaçava despejo, ela perambulava pela cidade com uma maçã no estômago, tomando água para “inchar a fruta na barriga”, ensinamento da sua mãe para enganar a fome.
Foi em uma dessas saídas que, no auge do desalento, encontrou um caminho. Exausta, sentou sob o vão do Masp e se deixou “chorar como uma criança”. Entre as lágrimas, viu um sujeito distribuindo algo e foi até ele: “Moço, essa empresa paga pra distribuir?”
Assim descobriu a revista Ocas , publicação produzida por jornalistas e escritores voluntários para ser vendida por moradores de rua, que ganham R$3 por edição. Convidada a participar do projeto, esclareceu que não era moradora de rua, mas ouviu do vendedor: “não é agora, mas logo vai ser”.
A frase lhe chacoalhou e Pilar agarrou a chance. Passou a ser vendedora e, depois, coautora de textos da revista, o que projetou seu nome no meio da chamada cultura alternativa. Com talento, e graças à nova rede, passou a ser convidada para cursos e saraus remunerados. Assim, conheceu a África do Sul durante a Homeless World Cup (Copa Mundial Sem-Teto) e foi entrevistada no programa Provocações, conduzido por Antônio Abujamra, na TV Cultura.
A escolha lhe dá satisfação pessoal e profissional, mas ainda rende sérias dificuldades financeiras. Por isso, conta com os 64 reais mensais do Bolsa Família. Não sem conflito. Na primeira vez que lhe perguntei sobre o benefício, Pilar achou que seria melhor não falar do assunto. “Não é que eu tenha vergonha, mas não queria receber, tem gente que pode precisar mais”.
A sua justificativa para continuar no programa pode ser uma boa reflexão para os críticos, aqueles que acham que o benefício acomoda e faz as pessoas tomarem um “caminho fácil”, abandonando a vida economicamente produtiva. “Prefiro ficar no programa, por enquanto, para poder correr atrás do que acredito, a pegar um emprego qualquer. Não quero ser como essa gente que faz o trabalho meia boca pra esperar a aposentadoria”.
O programa federal e o projeto social ajudam Pilar na batalha para construir uma carreira diferente daquela que lhe foi atribuída aos 8 anos. Nessa idade, ela começou a trabalhar como babá e doméstica para uma família de Belo Horizonte, Minas Gerais, onde viveu durante a infância. Ela cresceu levando beliscões e puxões de cabelo dos patrões quando insistia em brincar. “A patroa rasgava os meus desenhos, aquilo me dava uma raiva”.
Cansada, certa vez se recusou a engraxar os sapatos e se trancou no banheiro. “Fiquei umas duas horas lá dentro. A patroa chamou o marido e ele disse bem assim: ‘sua negrinha, dê graças a Deus que a gente te dá casa e escola”. Pilar, que estudava em um colégio público, respondeu com um grito, por trás da porta: “Eu quero voltar pra favela!”.
E voltou. Mas os patrões da infância deixaram uma marca. Desde então, ela sente as mãos tremerem quando os chefes levantavam a voz ou usam um tom mais duro. Mesmo assim, ela continuou reagindo às situações que considerava injustas, o que lhe obrigou a trocar de emprego diversas vezes.
Aos 17, mudou-se para o Rio de Janeiro, para trabalhar como babá em um apartamento na Avenida Vieira Souto, a rua da praia de Ipanema e um dos metros quadrados mais caros da América Latina. Com essa família, conheceu a Argentina e o Chile e viveu seus primeiros momentos de “glamour”, como ela gosta dizer. “Quando eu entrava nos salões com a menina no colo, todo mundo olhava. Eu era bem preta do sol, e ela ruiva, dava aquele contraste bonito. As pessoas olhavam como se eu fosse uma artista”.
Hoje, quando sente a energia dos aplausos ao fim de uma apresentação, deseja intimamente que as antigas patroas estivessem na plateia. “Queria que vissem onde cheguei”. Os aplausos são uma consagração, parte importante da vitória de sua escolha, mas Pilar sabe que sua arte ainda precisa atravessar outras fronteiras. Principalmente as cotidianas, que são as mais difíceis de alcançar.
Na semana passada, ela foi visitar a filha mais velha, que mudou-se para um apartamento no centro, deixando saudades. Dormiu na casa da filha e, no fim da manhã, não encontrou o ânimo habitual para se produzir antes de sair. No elevador, foi recebida com surpresa por uma moradora do prédio.
- Nossa, você já terminou o serviço? Que beleza. A minha leva o dia todo, coitada, está velha.
Pilar sentiu o tremor nas mãos que não experimentava há anos. Suspirou fundo e achou melhor não criar polêmica no prédio da filha.